ONG ajuda menina agredida a tirar manchas e traumas

Vítima de tortura dos pais, garota de 10 anos foi ‘adotada’ por entidade e passará por cirurgia na remoção de queloides espalhadas pelo corpo

Hoje, M.J. vai dar um passo importante para arrancar as marcas que ficaram das sessões de tortura que sofreu. Por causa das agressões com alicate, a menina tem queloides espalhadas pelo corpo. Após consultas com vários especialistas, a intervenção cirúrgica mostrou-se a melhor alternativa para eliminá-las.

Desde que saiu do hospital em agosto de 2016, M.J. e os irmãos, de 6 anos e 4 anos, foram encaminhados para um abrigo na Lapa, na zona oeste de São Paulo. O local é assistido pela Organização Não Governamental (ONG) Ciranda para o Amanhã, que ajuda 19 abrigos na região oeste da cidade e atende 350 crianças. A menina acabou “adotada” pelo grupo.

A ONG começou em dezembro de 2015 com um grupo de nove mães cujos filhos são alunos de uma mesma escola particular, na região da Lapa. O grupo cresceu e hoje conta com 600 voluntárias.

“A M.J. nos conquistou pela sua doçura. Ela tinha tudo para ser uma criança triste, amarga, mas é exatamente o oposto”, contou Paula Martinez, uma das fundadoras da ONG. Uma amiga, diz ela, havia contado o caso de M.J. e pediu ajuda para a ONG com o objetivo de acolher a menina.

Paula conta que um dos hábitos que a menina perdeu foi o de limpar o quarto. “As assistentes sociais nos contaram que no primeiro dia ela levantou cedo, pegou a vassoura e foi varrendo o chão. Depois que foi explicado que ela não precisava fazer mais aquilo, ela contou que estava acostumada a viver assim. Muito triste”, lembrou.

A simpatia e o carinho de M.J. fez com que os voluntários fizessem mais do que habitualmente costumam fazer. A menina passou a ser levada a passeios nos finais de semana com as diretoras. “Hoje há uma espécie de rodízio para quem vai ficar com ela”, contou Paula.

As “tias” costumam levá-la para o cinema, shopping, parques de diversões e até para passar “um dia de princesa” em um salão de beleza. Os irmãos mais novos também acompanham a garota em algumas ocasiões.

Cuidados. Desde que chegou no abrigo, a garota passou por consultas médicas e odontológicas. Atualmente, está em tratamentos dentário, dermatológico e também psicológico. Tudo isso foi possível, de acordo com Paula, porque os médicos e demais profissionais se sensibilizaram com o caso e decidiram ajudá-la de diferentes maneira.

“Ela já se submeteu a várias consultas com os mais variados profissionais. Em duas ocasiões, houve internação para retirada das manchas que ficaram na pele. Pagamos apenas o hospital. Médico e anestesista não cobraram”, contou Isabella Britto, que também ajudou a fundar a ONG.

Além das queloides, M.J. tem outras marcas de ferimentos por todo o corpo. “As manchas diminuíram bastante, mas as queloides aumentaram com o decorrer do tempo. Apenas com cirurgia será possível diminuí-las. É um trauma que ela tem, porque traz de volta, tudo o que já passou”, afirmou Paula.

De acordo com Isabella, o início do tratamento psicológico revelou vários traumas. M.J. não conseguia, por exemplo, dormir direito. “Ela dizia que fechava os olhos e ouvia risadas da mãe afirmando que a menina iria apanhar todos os dias. E acreditava que praga de mãe pegava. Foi difícil para ela parar de pensar nessas coisas.”

Futuro. A Justiça ainda vai definir com quem a menina e os irmãos vão ficar. Caso nenhum parente tenha condições de recebê-los, diz a ONG, há a possibilidade de encaminhamento para adoção. Não há prazo para a decisão. Enquanto isso, a menina segue encantando a todos. “Tia, eu amo vocês”, é o que ela costuma dizer.

Fonte: Estadão